quarta-feira, 24 de abril de 2013

AS ORIGENS SECRETAS DO UNIVERSO Capítulo 08: A Forja


      Logo, Kelda e "Hár" davam a volta em um pequeno morro, chegando à aldeia de Barkhän, onde construções nórdicas típicas se levantavam ao lado de ruas de terra batida. Hár logo notara que todas as casas, desde a taberna até as cabanas de famílias, tinham cabeças de auroques, grandes touros selvagens nativos da Europa, talhadas na madeira das vigas que saíam da frente dos telhados. No cais próximo a costa rochosa, um grande drakkar de vela azul e dourada estava ancorado, enquanto a tripulação entrava nele “Vamos garotas!” dizia um homem, provavelmente o capitão “É uma longa viagem e muitas coisas para ver!” Hár logo viu três moças carregando pesados baús, sem dificuldade alguma, até a embarcação. Uma das mulheres, que aparentava ter uns quarenta anos, com longos cabelos ruivos e olhos azul ciano, correu até outra, um pouco mais velha, com cabelos castanhos claros curtos e olhos verdes, e lhe deu um caloroso abraço “Nos veremos na volta” disse a mulher ruiva “Se cuide, irmã...” A mulher de cabelos curtos abraçou a irmã ainda mais forte, com algumas lágrimas no rosto “Eu só queria que ele vivesse para ver vocês voltarem” sussurrou ela “Ele é tão pequeno... Não merece morrer assim...” “Se as fiandeiras têm compaixão” disse a ruiva “Balder vai viver por mais tempo... Assim nós esperamos...” “Vamos mãe!” disse uma jovem muito bela, de cabelos loiros e olhos violeta “O mundo nos espera...” A mulher ruiva deu um beijo na testa da irmã e correu de volta ao drakkar, enquanto seu marido levantava a âncora com a ajuda de outro homem, com um grande bigode loiro “Está no comando da pesca até eu voltar” disse o capitão “Sei que seguirá tudo o que aprendeu...” “Pode confiar em mim, mestre” disse o homem, colocando a âncora dentro do barco “Não o decepcionarei...” Com a vela içada e os ventos favoráveis, a família logo zarpou no mar, pronta para conhecer o mundo e suas belezas “Meu tio e a família” disse Kelda, levando Hár por entre as casas de madeira e palha “Um grande navegador e pescador...  Mas acho que não o veremos por algum tempo...” Os dois continuavam a andar pela aldeia, chamando a atenção de alguns curiosos, já que o andarilho era um forasteiro. Mas o casal nem parecia ligar. Seu olhar estava fixo em Kelda e seus lindos cabelos que tremulavam enquanto ela andava. Era certamente uma das mais belas visões que o Criador já vira em sua vida. E notem que, pela idade, Ele deveria ter visto mais coisa do que qualquer pessoa que se diz vivida...
      “Ali está” disse ela, apontando para uma cabana que não era exatamente a mais vistosa “Meu pai deve estar me esperando... Venha...” Dentro da cabana, Hár avistou centenas de armas, escudos, jóias e anéis pendurados nas paredes de madeira, além de um grande forno onde queimava um caldeirão borbulhante, que cheirava a ervas e carne de rena. Tanto os objetos nas paredes quanto uma segunda fornalha com brasas vermelhas e uma grande bigorna com um martelo em cima denunciava o ofício do pai de Kelda “Pai!” disse a moça “Eu trouxe visita...” De trás de uma porta de madeira, saiu o homem de grande bigode e cabelos castanhos claros que ele vira na noite anterior “Sem querer ser rude minha filha” disse ele, num tom triste “Mas hoje eu não quero ver ninguém...” “Chefe guerreiro” disse Hár “Eu não quero incomodá-lo... Sua filha me disse que precisava de ajuda... Se me permitir usar sua ferraria, depois de terminar eu posso passar a noite em outro lugar...” O ferreiro de um suspiro cansado e logo foi em direção a um grande baú, onde remexeu vários pedaços e metal “Aliás, andarilho” disse ele “Pode me tratar como Magnus... E filha, poderia trazer uma caneca de hidromel ao nosso convidado?” Kelda logo se apressou até perto de um dos barris, onde encheu três canecas de madeira com um liquido dourado e grosso, com um cheiro delicioso. Enquanto ela a oferecia a Hár, Magnus tirou um grande pedaço de metal fosco, de cor prateada, que parecia ter sido esmagado pelos pés de um gigante como se fosse um inseto “Achei bruto numa caverna perto daqui” disse Magnus, o colocando sobre a bigorna “É bem leve, mas por incrível que pareça, nem eu nem meu aprendiz conseguimos sequer entortá-lo mesmo quando quente...” Hár pegou o metal e o segurou contra o peito, como se fosse uma espada apontada para baixo “Leve de fato” disse ele “Mas acho que não serviria para espada... Machado talvez...” “Vejam o que farão” disse o ferreiro, vestindo uma capa avermelhada com capuz “Aonde o senhor vai?” perguntou Kelda “O vento está ficando forte...” “E é por isso que vou até a taberna” disse o chefe guerreiro “Orkhon quer me mostrar o novo vinho que veio dos Sølvfolken... E tenho assuntos importantes a tratar com Vrthaf sobre a pesca... Acho que não verei vocês até amanhã...” “Ficaremos bem” disse o andarilho “Obrigado pela sua hospitalidade...” “Não foi nada!” disse ele “Um homem do norte tem de ser hospitaleiro e tratar bem seus convidados... Até amanhã!” O chefe guerreiro saiu pela porta da frente, deixando um pouco das folhas que se renovavam nas árvores entrar “Alguma ideia do que faremos com isso?” perguntou Har, se dirigindo para a bigorna “Uma arma talvez...” afirmou Kelda “Algo especial... Um machado de guerra...” “Gosto do seu jeito de pensar, minha cara Kelda” disse Deus, fazendo a moça corar um pouco. Vestindo grossas luvas de couro de dragão roxo e aventais, os dois logo começaram a forja. Aquecendo-o sobre as brasas quentes, o metal se tornou incandescente e vermelho. Apesar de usar toda a sua força, Kelda não conseguia sequer retirar uma faísca do metal com o martelo. Quando o passou para Hár, no entanto, algo ocorreu. Ela via no fundo dos olhos dele a determinação. Quando ele levantou o martelo no ar, um raio caiu ao longe, seguido de um poderoso trovão. Ao olhar para o metal, Kelda viu que ele finalmente estava reto “Conseguiu?” ela perguntou “Eu não acredito... Você conseguiu!” Ela logo rodopiou no pescoço de Deus com um abraço “Acalme-se” disse Ele “Isso era só para testá-lo... Ainda temos que derreter e moldar...” A tarde foi passando enquanto os dois conseguiam finalmente transformar aquela coisa em algo realmente funcional. Perto do crepúsculo, os dois finalmente tinham terminado. Era um grande machado de guerra de duas faces, com um longo cabo revestido em aço “Por que não testa o corte?” disse Kelda, suada e suja de fuligem, assim como Hár. Deus logo puxou uma das toras usadas como lenha. A lâmina desceu com tanta precisão e força, que a madeira se partiu no meio sem nenhuma ranhura ou defeito. Ambas as metades estavam completamente lisas “Leve” disse Deus, observando o metal brilhante com atenção “Corte perfeito... Empunhadura firme... Você é realmente uma artista...” “Não teria conseguido sem você” disse ela “Obrigada...  mesmo...” Deus apenas deu um leve sorriso “Se me permite” disse Ele “Vou procurar um canto para mim... Boa noite...” “Se quiser” ela disse “Minha tia é dona de uma estalagem aqui perto... A casa maior com o caminho de pedras... Basta dizer que me conhece ou ao meu pai. Garanto que será bem recebido...” Ele apenas deu um leve aceno de cabeça e saiu pela porta. O vento estava um pouco mais forte e as estrelas cobriam o céu quase que por completo. Har, segurando seu chapéu, logo avistou a estalagem. Ele andou pelo caminho de seixos cinzentos até a grande porta de madeira de lei. Antes de bater, Ele deu uma olhada para trás, para a ferraria onde Kelda estava. Será que ela o amava como Ele fazia? Essa era uma dúvida cruel que meio que o consumia por dentro...

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