sábado, 16 de fevereiro de 2013

AS ORIGENS SECRETAS DO UNIVERSO Capítulo 07: Kelda

     Centenas de milhões de anos haviam se passado desde o desentendimento entre Deus e Lúcifer, mandado para as profundezas do planeta que o Diabo tentou destruir. Enquanto isso, a Terra fervilhava com vida, que Deus observava com orgulho, raramente descendo para intervir no fluxo que suas criações seguiam. Isso, porém, não impediu que seres inteligentes de fora viessem para “mexer” na vida terráquea. Mesmo durante o desenvolvimento da vida primitiva e nos tempos do maior império que a Terra já viu, muitas bases foram construídas, algumas nunca localizadas nem pelo próprio Criador da Vida. Há certa altura do desenvolvimento da vida surgiram, evoluídos de primatas que andavam ereto, os Humanos. Quando Deus os viu pela primeira vez, sentiu-se realizado, seguindo as palavras de Bellator, pois essas criaturas aparentemente frágeis eram muito semelhantes a Ele, capazes de sentir a compaixão, a coragem e a esperança, mas também observou o ódio, o medo e a ganância, males que assolam qualquer população desde que os homens são homens. Isso só mostrava ao Criador que qualquer criatura, seja uma simples bactéria, um protozoário errante ou mesmo homens e marcianos, eram falhos, suscetíveis ao erro, algo que nem Ele mesmo podia escapar.
      Houve algumas vezes em que o Criador ao mundo dos mortais para andar entre suas criações e, quando o fazia,usava disfarces discretos, ou mesmo aparentemente imperceptíveis aos humanos, que já se achavam os donos do mundo que mal conheciam por inteiro. Os motivos pelos quais Deus descia a Terra poderiam ser vários: Por que Ele vira que um povo precisava de proteção, ou de alguém que fizesse a diferença. Mas chegou um dia, em que uma voz conhecida ecoou em sua cabeça “Ele voltará Irmão... É bom se preparar para a batalha que há de enfrentar...” Essas mesmas palavras ecoaram por dias na cabeça de Deus, até que Ele finalmente decidiu segui-las. Em meio aos Céus, onde fizera sua morada na Terra, fez surgir um grande portal dourado “Por que desejas descer desta vez, ó Senhor?” disse a voz do porteiro, Pedro, um homem de barba e cabelos castanho acinzentados, vestido com uma túnica e usando um elmo com uma cruz gravada em sua fronte de metal brilhante “Ó poderoso porteiro” disse o Criador “Recebo mensagens em minha mente que pedem para serem atendidas com urgência... Tu permitirias minha descida a Terra mais uma vez?” “De sua última ida ao mundo dos Mortais” disse Pedro, preparando a grande chave dourada em seu pescoço “Trouxeste um salvador para o meu povo... E quem seria eu para impedir a Ti de descer ao mundo que criaste com as próprias mãos? Vá... Atenda ao pedido...” Deus se ajoelhou diante do porteiro, que abriu o grande portão dourado. Transformando-se numa águia branca, o Criador descia para a Terra. Atrás Dele, os portões dos Céus se fechavam, deixando o Paraíso mais uma vez incógnito na atmosfera, sem que ninguém pudesse vê-lo.  A grande águia voava pelo céu azul, sentindo os ventos em suas penas alvas como a neve. A voz que ecoava em sua cabeça parecia o estar guiando para seu destino, onde haveria de enfrentar alguém. Ele voava de olhos fechados, esperando que quem lhe dera a mensagem pudesse guiá-lo só com a voz.
      A confiança do Criador logo o levou ao destino. Abrindo seus olhos azuis, Ele se viu pousado no topo de uma casa enorme, com teto de vigas de madeira e palha reforçada. Indo um pouco mais para frente, Ele viu onde realmente estava. Era uma grande aldeia nórdica, onde os homens enormes com barbas respeitosas e as mais belas mulheres que o Criador já havia visto desmontavam o que parecia ter sido um festival da colheita. Deus observava os homens e mulheres fazendo suas tarefas, mas havia uma em especial por quem Ele parecia ter se interessado: Uma linda dama alta, de longos cabelos negros e com olhos verdes como as florestas. Ele apenas ouviu uma conversa que ela estava ater com um homem de bigode a cabelos castanhos claros “Não se preocupe, meu pai” dizia ela, num tom reconfortante “Ele só está irritado... Tenho certeza que vai passar logo...”, mas o tom de voz do homem era como se tivesse acabado de perder um filho “Eu não sei filha... Ele parecia brabo de verdade... Acho melhor deixá-lo em paz por um tempo...” O homem apenas entrou na casa onde Deus estava pousado, bem como a linda moça “Poderoso Odin” disse ela, chamando a atenção da ave branca “Se ouves a minha prece, por favor, mande um sinal... Meu pai precisa de ajuda...” Deus ficara surpreso. Odin era um de seus muitos nomes, pelo qual os povos nórdicos o chamavam, e um dos que Ele mais sentia afinidade. O grande pássaro apenas se virou em cima do telhado e se pôs a dormir. Ele já sabia o que faria quando o sol raiasse no leste...
       Um novo dia nascia, com o vento soprando um pouco mais forte, trazendo várias folhas do bosque próximo para as ruas de terra batida da aldeia. Como era de se esperar, a grande águia de penas brancas ainda estava no telhado, quando ouviu alguém sair pela porta da frente. Era a dama da noite anterior, carregando um arco longo e uma aljava com flechas, se dirigindo para o sul do morro nos limites da aldeia. A grande ave alçou vôo e a seguiu, chegando num bosque à beira de uma planície coberta de relva antes dela. Ele logo tomou outra forma. Um homem de barba e cabelos grisalhos e desgrenhados, que usava um chapéu de abas largas e um manto escuro, se apoiando num cajado “Muito bem, Deus” disse o Criador para si mesmo “Tente não chamar a atenção...” Do nada uma grande flecha zuniu na frente dele quase que acertando seu nariz “Quem vem lá?” disse uma voz feminina “Responda ou não terei receio em acertar o alvo...” “Por favor, minha jovem!” disse Deus, levantando os braços em sinal de rendição “Não quero fazer mal a ninguém... Sou apenas um humilde andarilho... Tenha piedade...” Deus logo sentiu alguém tocar seu ombro e o virar para o outro lado com uma força comparável a Dele próprio “Qual seria seu nome, ó andarilho?” disse a moça, a mesma que Ele vira na noite anterior consolando o pai “Sou Hár, O Altíssimo” disse Ele “Como poupou minha vida, é justo que Eu lhe dê algo em troca...” Ele esperava resposta, mas a moça ficou hipnotizada pelos brilhantes olhos azuis do andarilho, assim como Ele ficara  pelos dela, que brilhavam como esmeraldas recém-lapidadas. Os dois ficaram se olhando por algum tempo, até que Hár quebrou o silêncio “Há algo que Eu possa fazer por ti, dama arqueira?” “Kelda” disse ela “Eu me chamo Kelda Corvo da Noite...” “Um belo nome para uma bela mulher...” Ele respondeu, fazendo-a corar “Então, Kelda... Possui uma tarefa para me oferecer?” A moça se afastou um pouco e olhou Deus de cima a baixo “Você parece ter bastante força nos braços” disse ela “Já teve alguma experiência com ferraria?” “Um pouco” disse Ele “Por quê? ” “Venha comigo” disse ela “Quero que veja uma coisa...” Ela segurou o mão enorme de Deus e o arrastou para fora da floresta e pela planície verdejante. A paisagem era, de longe, uma das mais belas que o Criador já havia visto fora do plano imortal de existência. A grama verde, os insetos zunindo, o canto de aves de todos os tamanhos, o céu azul e o sol brilhando entre as nuvens brancas, o som do mar batendo nas rochas da costa próxima. Tudo era belo. Mas nada era tão bonito quanto a visão da moça que o arrastava para a aldeia. Ele logo sentiu um suor percorrer sua testa, uma tremedeira tomar suas pernas e seu coração bater mais rápido e com mais força. Ele havia se apaixonado. E pela primeira vez em muitos anos. Mas seria esse sentimento recíproco?

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