Ainda fundido a
matéria escura que formava o Universo, Irmin soltou seus Irmãos e levantou seus
dedos nodosos. Das palmas de suas mãos enormes grandes feixes de energia
brilhante foram lançados no espaço, ainda muito quente. Parte dessa energia se
juntara a grandes nuvens de poeira e gás já existentes, alterando sua estrutura
molecular. Essas nuvens haviam de se tornar as nebulosas, os berçários dos astros com
luz própria, as estrelas (nome que veio do Titanis stranm - luminoso) formadas de gás e plasma
super aquecidos, assim como as esferas no interior do Lar dos Ancestrais. Irmin
fizera inúmeras nebulosas, mas com o tempo tanto elas quanto as estrelas se
formariam sozinhas.
Enquanto o primogênito se
preocupava com os astros brilhantes, Lúcifer e Deus juntavam gases com outros
elementos, como as rochas errantes resultantes da explosão do Big Bang. Eles as
moldavam em grandes corpos celestes, que Lou nomearia como planetas (Outra palavra do antigo
Titanis pran’tu - criadouro), onde colocariam suas
criações. Alguns planetas eram corpos rochosos grandes, cobertos de pedra e
fogo, que se chocavam caoticamente uns contra os outros e levantavam brumas de
fumaça venenosa. Outros eram imponentes gigantes gasosos, com grandes núcleos
de gelo e metais derretidos de onde emanavam poderosos e gélidos ventos e
tempestades elétricas que cobriam toda a atmosfera. Das colisões entre os
planetas flamejantes, grandes pedaços de rocha voavam pelo vácuo. Passados 10
bilhões de anos, com a matéria escura já pontilhada de estrelas brilhantes, que
nasciam e morriam a todo o momento, causando desde gigantescas explosões
conhecidas como supernovas, para depois de expandir mais e criar
massivos buracos negros, que sugavam tudo o que entrasse em sua
órbita. Tudo estava espalhado pela matéria escura, como se fosse uma grande
sopa cheia de ingredientes. Lúcifer e Deus, então começaram a juntar nebulosas e
estrelas tanto jovens quanto velhas em grandes massas espirais, elípticas,
parecidas com grandes nuvens disformes ou como se fossem grandes bumerangues.
Os planetas começavam a ser atraídos pela gravidade exercida pelas estrelas,
trazendo suas órbitas para junto delas, mesmo que ainda caóticas. Essas grandes
massas brilhantes em meio ao vácuo foram nomeadas por Lúcifer como galáxias (Mais uma vez, veio do Titanis glaxyí – junto; próximo). Muitos dos
planetas rochosos continuavam a colidir deixando soltas no vácuo grandes
rochas, que acabaram por se unir em grandes cinturões ou nuvens ao redor de
algumas estrelas. Irmin nomeou as grandes rochas como asteróides (Do Titanis astor - pedra). Algumas dessas rochas,
menores e formadas de também de gelo, passavam perto de estrelas e adquiriam
grandes caudas de vapor, que os deixavam muito belos. Deus nomeou-os como cometas (Do Titanis canmur - errante).
Apesar das inúmeras criações espalhadas
pela matéria negra, os Três Irmãos não se viam satisfeitos. Pareciam artistas
excitados com qualquer tela em branco que lhes aparecesse. Irmin, adentrando
uma grande galáxia espiral, fez questão de moldar uma última estrela com suas
próprias mãos. Mais uma vez fundido a escuridão, o Primogênito puxava
hidrogênio e hélio, junto de poeira cósmica, asteróides e outros gases. Uma
pálida luz amarela começou a ser vista entre a grande espiral de matéria, mas
que parecia minúscula comparada à galáxia em que se encontrava. A grande nuvem
começou a se desfazer, revelando uma grande estrela amarela e laranja, rodeada
por inúmeros asteróides “Irmãos” disse Ele “Esta talvez seja minha última
estrela... O que haverá ao redor dela e seu nome Eu deixo sob cuidado de
Vocês... Veremo-nos novamente... Eu prometo...” Os olhos brilhantes e as mãos
ossudas de Irmin, logo sumiam no vácuo. Lou e Deus ficaram por muito tempo
olhando para a pequena estrela amarela, como se ela fosse uma grande jóia “Sunna...”
disse Lúcifer calmamente, chamando a atenção de Deus “A aconchegante... Aquela
que dá calor e proteção... É um bom nome não acha?” Deus apenas assentiu e deu
um leve tapinha no ombro do Irmão mais novo “Venha” disse Ele, se aproximando
da estrela “Vamos trabalhar...” Lou soltara um leve sorriso, concordando com a
ideia de Deus e adentrando a nuvem de asteróides.
Assim com já fizera antes, Deus
começou a unir pedaços de rocha em planetas, fazendo dezenas deles, que
começavam a se chocar. Isso já dera conta de uma boa parte dos asteróides, que
se uniam num cinturão em volta dos planetas rochosos. Na órbita exterior,
Lúcifer soprava grandes quantidades de gás, metal e gelo, como se estivesse
moldando vidro. A matéria começou a tomar forma, criando enormes gigantes
gasosos, cobertos de nuvens de cores que iam do azul e branco ao laranja e
vermelho, e atraiam inúmeras rochas suspensas no vácuo, formando grandes anéis
ao redor deles. Fora dos planetas gasosos, Lou, motivado pela luz de Sunna,
criara pequeninos planetas de gelo e rocha, chamados planetas anões, com órbitas
extremamente elípticas e mergulhados num outro cinturão
de asteróides As outras rochas errantes foram sopradas por Lou e
Deus para longe, formando uma grande massa ao redor dos planetas e de Sunna.
Apesar de praticamente pronto, o novo sistema planetário ainda era caótico,
sendo que os planetas rochosos sofriam inúmeras vezes com choques violentos
entre si. Deus, então, voltou à órbita interior de Sunna, notando que apenas
alguns das dezenas que havia criado sobraram para contar história. Dois deles
eram bem próximos a estrela: um era pequeno, coberto de rocha alaranjada e
ainda recebendo o impacto de pequenos asteróides que enchiam sua
superfície de crateras. O outro era um pouco maior, coberto de nuvens espessas
de cor cinzenta, de onde Deus podia ouvir as chuvas caírem, bem como grandes
vulcões entrando em erupção.
Perto do cinturão de asteróides, um dos planetas se mantia um pouco
mais estável que os outros. Deus se aproximou dele, atravessando as finas
nuvens que o cobriam. Ele viu uma terra vermelha, e além dela havia um oceano
azul turquesa, que parecia cobrir a superfície do planeta quase que por completo. Encantado pela beleza das águas, Deus colocou sua mão na beira de uma
praia, onde a maré batia em seus dedos, que emanavam uma luz pálida, que
adentrava nas águas claras “A água” dizia Ele “Fonte de toda a Vida... Daqui eu
vos crio, povo do planeta vermelho...” A luz dos dedos de Deus se unia a
moléculas na água, criando minúsculas criaturas, praticamente invisíveis ao
olho nu, mas que podiam ser vistos por seu Criador “Da água vieram” Ele
continuou “E da água viverão... Crescei-vos e multiplicai-vos! Pois um dia, o
império de seus descendentes será um dos mais prósperos já vistos...” As
palavras do Criador ecoariam por gerações de habitantes do planeta vermelho,
nomeado então como Marte (Do antigo Titanis Marccî - Guerreiro).
Ao ver como seu Irmão podia criar
vida, Lúcifer também decidiu tentar. Ele voou para além do sistema de Sunna,
indo até um pequeno planetoide de atmosfera rala, mas rica em oxigênio. Ele colocou sua mão numa pequena poça,
onde a luz pálida emanou de seus dedos. Porém, ao ver a água borbulhar, Lou
aproximou sua cabeça da poça. Ele pode ver os minúsculos micro-organismos,
semelhantes aos criados por Deus, se desfazendo na água agora escaldante “Estas
mãos não podem criar...” sussurrou Ele, com uma lágrima brotando timidamente em
seus olhos “Elas só destroem...” Ele então ficou ajoelhado, lamentando pela
vida que matara, achando que não haveria mais esperança para aquele lugar,
destinado a ser um mundo morto.
Ainda em Sunna, Deus olhava para
Marte com orgulho, enquanto os minúsculos micro-organismos começavam
a se tornar mais complexos, formando criaturas visíveis ao olho nu. Porém, o
Criador da Vida ouvia as palavras finais de Bellator ecoando em sua cabeça “Um
dia... Criarão um mundo espelhado em vossas imagens...” Se vendo inspirado
nisso, Deus foi um pouco além de Marte, mais perto da estrela regente.
Começando a juntar rocha e fogo, Ele foi moldando o mundo novo: a Terra (Do Titanis Terlu – igual; espelho). Ao terminar,
porém, ele não estava como o Criador esperava. Era um mundo estéril, coberto
com uma atmosfera venenosa, assolada por chuva ácida e queda de meteoritos.
Passado algum tempo, um grande planeta se intrometeu na órbita da Terra,
começando a se incinerar num poderoso asteróide quanto mais se aproximava da
superfície árida “Trema diante de Thea,
o Destruidor!” urrou Lou, com o fogo embebendo seus olhos “Irmão”
irrompeu Deus “Por que tu fizeste isso? O que há de errado contigo?” “SIM!”
Lúcifer continuou “Há algo errado! Eu sou o Onipotente! Eu sou quem deveria ter
o poder de criar a Vida, e não de destruí-la ao primeiro toque...” “O ódio está
o consumindo, Irmão...” disse Deus, calmamente se aproximando de Lou “Deixe-me
ajudá-lo...” “AFASTE-SE DE MIM!” irrompeu Ele novamente, disparando fogo das
mãos contra Deus, se protegendo com um escudo de relâmpagos “SE EU NÃO POSSO
DAR A VIDA A NADA, TU TAMBÉM NÃO PODERÁS!” Deus viu com olhos arregalados Thea
atingindo a Terra e arrancando parte de sua crosta como se fosse uma casca de
ferida, deixando o magma exposto no vácuo “Chores diante de tua criação, Deus”
disse Lou, preparando o tridente nas mãos “Pois não haverá mais nenhuma vida
nesse Universo...” Antes que Lou lhe desse o golpe final, Deus segurou o
tridente, eletrocutando o Irmão como da primeira vez que lutaram, mas dessa vez
com muito mais força “Se almejas tanto a Terra” disse Ele, com uma voz
trovejante “Por que não se une a Ela?” Deus pegou o corpo semi-paralisado de
Lúcifer e o lançou contra a Terra, fazendo-o mergulha na lava que começava a
esfriar e formar a crosta nova “VOCÊ PAGARÁ POR ISSO!” urrou Ele “GUARDE MINHAS
PALAVRAS!”
Deus apenas olhava para a Terra,
enquanto sua crosta voltava a crescer lentamente. A parte da superfície
arrancada por Thea começou a se juntar em volta do planeta, formando uma grande
esfera de rocha estéril, que de alguma forma estabilizou a órbita do planeta,
cujos vulcões começavam a cobrir a atmosfera de nuvens, iniciando tempestades
violentas na Terra. A grande rocha flutuante e cinzenta, que rodava ao redor da
Terra foi nomeada Lua (Do Titanis luna - salvadora). Passados alguns
bilhões de anos, a Terra viria a receber vida, assim como Marte, seu planeta
vizinho, cujos habitantes já começavam a colonizar a superfície. Deus observara
seu novo lar, aquecido e
iluminado pela majestosa estrela Sunna (ou Sol, como seria chamado mais
tarde). O Criador então se retirara para os céus da Terra, sua jóia da coroa,
de onde observaria a evolução tomar seu curso.
A História da Vida no Universo
estava prestes a começar...
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